Sobre o palco, a diva,
absoluta em corpo, roupas, essências e maquiagem, o procura. Deve
ser um dos muitos pares de olhos da assistência. Ela crê que o
seja. Rompem aplausos, começa. A voz levanta versos e notas em tons
e modos tão unicamente delicados, que, aos poucos, um arrepio se
alonga no corpo e na alma de todos. Em cada música, ela transborda
a divina alegria dos amantes enamorados. E o público, cúmplice do
mesmo enlevo, embarca num delírio que viola as imperfeições da
realidade. Nesse êxtase, o mundo inteiro parece bom. Parece. Mas,
não é ele. Tinha mesmo dito fim. Rompem aplausos. E a diva torna ao
palco, absoluta em sofrimento e pranto. A voz arrasta versos e notas
em tons e modos tão unicamente repletos de desespero que, aos
poucos, não há olhos sem gêmeas lágrimas, ou corações sem
frescas chagas. Pela força que a dor empresta ao talento, ela
impinge a todos parte do abandono que a encarcera. Canta e encanta.
Irrompem aplausos, suspiros, gritos e mais aplausos cheios de
admiração e respeito. Para os fãs, a consagração do mais puro
talento. Para ela, a certeza do quarto solitário, da cama fria e
vazia, onde, horas mais tarde, encontram uns comprimidos, uma tesoura aberta, um
talho nos pulsos.
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